[165] Manuel

Quando Manuel nasceu, o mundo vivia na ressaca da II Guerra Mundial. Salazar estava há 18 anos no poder. A educação obrigatória era o ensino primário, onde aprendeu e ainda se recorda dos rios, dos reis de Portugal, das linhas de caminho-de-ferro e outros conhecimentos que à época ensinavam às crianças. Viu a eletricidade chegar à sua rua, em Vila de Punhe.

Desde sempre trabalhou, começando cedo na arte da trolhice. Foi um dos 800 mil que Portugal mandou para o Ultramar e esteve em Angola dois anos e oito dias. Testemunhou a revolução de Abril, casou e teve dois filhos. Viveu intensamente as transformações sociais e políticas do pós-25 de abril e procurou sempre dar as condições que nunca teve. Foi pai mais duas vezes, já com Portugal na Europa. No início da década de 90 emigrou para França, onde esteve dois anos.

Fiel ao bigode, não foi à Expo98 e antes do novo milénio chegar, o primeiro Ribeiro terminou o ensino superior. Atravessou várias crises económicas, mas a de 2008 foi mais forte do que ele. Apesar das Novas Oportunidades, o telemóvel continua a servir apenas para chamadas e o computador para os filhos usarem. Reformado, a terra e o que nela cultiva é a sua terapia. Avô de duas princesas, voluntário associativo, catequista de muitas crianças e jovens, adepto fervoroso do Neves FC.

Hoje o meu pai está de parabéns. Tive de abrir uma calculadora para confirmar o cálculo mental. Sim, são 71 anos! “A vida é um ciclo”, e tu completas mais um.

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