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[173] Com os descontos eleitorais compre jornais

A um de julho do ano da graça eleitoral autárquica 2021 foi anunciado 50 por cento de descontos para muitas auto-estradas, daquelas que foram construídas com fundos europeus sob o desígnio de não terem custos para o utilizador.

Nas notícias que circularam ficava-se a saber, por exemplo, que esse desconto é aplicável para alguns lanços das autoestradas ex-SCUT, nomeadamente A28, A17, A25, A29, A4, A41, A42, A22, A23 e A24, sendo essas estradas identificados no anexo I ao decreto-lei n.º 67-A/2010. Mais uns decretos-lei depois e dados de próximas medidas para veículos elétricos, surge a indicação que “o Governo vai instituir um regime de modulação do valor de taxas de portagens para veículos das classes 2, 3 e 4 afetos ao transporte rodoviário de mercadorias e de passageiros, para as autoestradas abrangidas pelo novo modelo de descontos previsto no OE2021”. Todavia, a 1 de julho de 2021 as manchetes garantiam: Descontos de 50% nas portagens da A28 entram hoje em vigor

Entretanto, no Jornal de Notícias foi-se além da nota recebida em todas as redações e a 4 de julho publica: Ligeiros fora dos descontos adicionais nas ex-scut. Afinal, o grosso dos utilizadores das ex-SCUT não tem desconto, pois a maior parte conduz veículos de classe 1. Além disso, para ter desconto é preciso ter um dispositivo da Via Verde.

Ora, temos aqui um excelente caso para dar como exemplo da importância de ter jornalistas nas redações e não apenas um estagiário que publique o que chega ao email do órgão de comunicação social. Principalmente em época eleitoral. Por isso, se foi um dos felizardos nos alegados descontos, aproveite o que vai poupar e compre jornais. Não se vai arrepender.

[172] Associações para totós

Em tempos pré-internet, uma coleção de livros fez sucesso. Baptizada de “qualquer coisa” para totós, prometia ensinar e esclarecer qualquer um sobre como aprender uma língua ou mexer em algo. Correndo o risco de não ficar à altura do original, eis que partilho convosco aquilo que poderia vir a ser o livro o guião de: “Uma associação para totós”.

No primeiro capítulo aborda-se a constituição de uma associação. Por exemplo, explica-se como se formaliza e redigem-se estatutos e regulamentos.

O segundo capítulo seria dedicado à assembleia-geral, o órgão mais importante de qualquer associação, espaço em que os sócios decidem o futuro da sua associação. Segue-se um capítulo sobre a direção e outro para o conselho fiscal.

O Plano de Atividades e orçamento estaria no quinto capítulo e no sexto os relatórios desses planos.

Por fim, um capítulo dedicado ao processo electivo. Apesar de algo raro, existem eleições nas associações.

Sinto, porém, que este projeto de livro nunca deixará de ser apenas um projeto. Porque não há totós nas associações! 

O que se verifica é uma apatia que só é quebrada quando uma segunda linha procura dar um outro rumo. Porém, acredito que este livro, existindo, teria dado imenso jeito para os associados da Associação de Futebol de Viana do Castelo. É que o recente processo eleitoral mais parece ter sido feito para totós…

[170] Quem tem um carregador?

A. “Enquanto uns vão a Marte por divertimento, a África Subsariana tem 600 milhões de pessoas sem acesso a eletricidade”. Quem acusa é Cristina Duarte, vice-secretária-geral da ONU para África. A este propósito, desafio que escute o Café na Praça que tive com Goran Lima, gestor de um fundo no Banco Africano de Desenvolvimento, que procura ajudar a iluminar África. O acesso à electricidade é, ainda, um luxo ocidental.

B. “Já estás vacinado? Com qual?”

Quantas vezes esta pergunta tem sido feita durante os últimos tempos, entre nós? Não basta o acesso à saúde, nem os cuidados a ter com a vírus, há também a hipótese de se ter acesso a uma vacina e há quem ache legítimo questionar o laboratório que a produz. O acesso à saúde é um luxo ocidental.

C. “Alguém tem um carregador? Estou a ficar sem bateria!”…

Quantas vezes ouvimos esta pergunta, entre amigos ou familiares, quando o pavor de ficar desligado do mundo digital se apodera do proprietário do telemóvel que se aproxima do final de ciclo da bateria? A preservação da natureza é um luxo ocidental!

Se os dois primeiros casos acabam por não ser novidade, seria claro quanto ao terceiro. Falo do lítio. É só mais um exemplo da hipocrisia ocidental. Todos queremos as nossas baterias para os diversas aparelhos e até automóveis. Desde que esse lítio não venha das nossas serras.

Somos hipócritas. Haja bateria para ler este texto até ao fim.

[169] Precisa-se de bispo. Entrada imediata

Nove meses passaram desde o fatídico dia em que don Anacleto Oliveira faleceu e a diocese de Viana do Castelo ficou sem bispo.

A Igreja gaba-se de dizer que o seu tempo não é o tempo dos Homens. Todavia, em questões como esta talvez fosse conveniente que os relógios do Vaticano acertassem pelo meridiano de Greenwich e anunciasse o quinto bispo da diocese de Viana do Castelo. Isso ou a agregação à arquidiocese de Braga. Ou então o Vaticano pode recorrer aquelas empresas de RH que colmatam as necessidades laborais. Sempre escutei sacerdotes garantindo que a messe é grande e as mãos são poucas.